O jump scare é a técnica que filmes, jogos e mesmo músicas aperfeiçoaram aos longo das décadas para dar um susto em sua audiência. Inicialmente uma ferramenta para tornar mais intensa a experiência cinematográfica, o jump scare se tornou alvo de críticas por muitas vezes ser usado como muleta para filmes mais preguiçosos se eximirem da responsabilidade de ter conteúdo, dependendo totalmente dos sustos para agradar os espectadores – ao ponto de críticos considerarem o jump scare um subgênero ruim dos filmes de terror. Com a chegada de “Annabelle 2 – A Criação do Mal” às telonas Brasil afora, o Cinema Com Rapadura vem debater o uso desta ferramenta ao longo das últimas décadas, sua relevância no terror contemporâneo e o advento do pretenso “pós-horror”.
O jump scare, como ferramenta, consiste basicamente em quatro elementos: uma situação de perigo, uma segurança momentânea, e finalmente uma virada súbita na imagem – com algo ou alguém surgindo abruptamente na tela – e um elemento sonoro, como um grito ou uma elevação na música, para concluir seu efeito. Sendo assim, é possível observar que o jump scare não é uma invenção recente, visto que o susto existe desde que o mundo é mundo e que o cinema é cinema.
Filmes clássicos de terror já utilizavam o elemento com primor muito antes de algumas atividades se tornarem paranormais. “Psicose”, de Hitchcock, lançado em 1960, conta com dois momentos jump scare que não só funcionam como são cruciais para a narrativa: a cena da revelação de que a Sra. Bates já estava morta há bastante tempo, com a virada rápida da cadeira, só perde para uma das cenas mais memoráveis da história do cinema.
A Maldição do Jump Scare
Nos anos 1980, com a proliferação dos filmes slasher e suas continuações, algumas “subtropes” foram incorporadas ao jump scare – por exemplo, o retorno súbito do assassino/entidade para um último susto antes do fim do filme, ou o fake scare, no qual o cineasta prepara uma situação e a desarma, apenas para de fato assustar no momento seguinte. Diversas cenas nestes padrões vêm à mente, e foi exatamente aí que residiu a decadência momentânea do jump scare: o seu sucesso desencadeou um uso exagerado, e seu posterior desgaste.
Embora ainda tenhamos demonstrações bem-sucedidas de jump scare ao longo de todas as décadas, como listamos acima, as intermináveis sequências de filmes de terror e os muitos filmes de assassinos em série foram uma onda que lavaram o cinema de horror dos anos 80 e início dos anos 90. O cansaço do público foi tanto que a única forma de conseguir ainda convencer as pessoas a irem ao cinema assistir gente-cortando-gente foi através da paródia. Exemplo máximo do que chamamos de neo-slasher, “Pânico“, de 1996, cresceu e tornou-se um clássico cult, mas só conseguiu fazê-lo por não se levar a sério, andando na linha tênue entre o terror, a sátira e o ridículo. Tendo sucesso nesse equilíbrio, a audiência deu o salvo-conduto para a franquia abusar de todos os clichês do gênero – incluindo o jump scare.
Plot twist (reviravolta no enredo) é uma mudança radical na direção esperada ou prevista da narrativa de um romance, filme, série de televisão, quadrinho, jogo eletrônico ou outra obra narrativa. É uma prática muito usada para manter o interesse do público na obra, para normalmente surpreendê-los com uma revelação surpresa. Alguns "Twists" são antecipados.
Quando um Plot Twist acontece perto do fim de uma história, especialmente se este muda a visão de um dos eventos anteriores, ele geralmente é conhecido como um final surpresa. Supõe-se frequentemente que quando se é revelado antecipadamente sobre um Plot Twist numa determinada história, este é considerado spoiler, uma vez que a maior parte das obras relacionadas a este elemento desenvolvem-se no intuito de alcançar o Plot Twist (porém, existem sugestões que dizem o contrário). Um tipo de artifício usado para minar as expectativas do público é o do falso protagonista. Trata-se de apresentar um personagem no início da história como sendo o personagem principal, mas, em seguida, este personagem é descartado (sendo geralmente morto). Este tipo de Twist é chamado John Red.
O filme Os Outros é um bom exemplo de filme com "plot twist", ou seja, um final que surpreende e faz a cabeça "explodir". |
O Final surpresa é um Plot Twist que ocorre próximo ou na conclusão de uma história, sendo uma conclusão inesperada de uma obra de ficção que faz com que o público pare para reavaliar a narrativa e os personagens.
Mecânicas de um final surpresa
Anagnórise
Anagnórise, ou descoberta, é o reconhecimento súbito do protagonista (ou de outro personagem) de sua própria identidade e natureza.Através desta técnica,as informações anteriormente inexplicadas do personagem são reveladas. Um exemplo notável de anagnórise acontece em Édipo Rei.
Anagnórise, ou descoberta, é o reconhecimento súbito do protagonista (ou de outro personagem) de sua própria identidade e natureza.Através desta técnica,as informações anteriormente inexplicadas do personagem são reveladas. Um exemplo notável de anagnórise acontece em Édipo Rei.
Flashback
Flashback ou analepse é a interrupção súbita da sequência cronológica narrativa da história pela interpolação de eventos ocorridos anteriormente. É usado para surpreender o leitor com informações previamente desconhecidas que fornecem a resposta para um determinado mistério, colocando certo personagem em uma visão diferente ou revelando a razão para uma ação anteriormente inexplicável.
Narrador não confiável
Um narrador não confiável distorce o final, revelando (quase sempre no final da narrativa), que o mesmo havia manipulado ou inventado a história anterior, forçando o leitor a questionar suas suposições prévias sobre o texto.
Peripeteia
Peripeteia é uma inversão súbita da fortuna do protagonista, seja para o bem ou para o mal,que surge a partir das circunstâncias do personagem de maneira natural. Ao contrário da mecânica de deus ex machina, a peripeteia deve ser lógica dentro do quadro da história.
Deus ex machina
Deus ex machina é um termo latino que significa "deus vindo da máquina".Refere-se a um inesperado, artificial ou improvável dispositivo, personagem ou evento introduzido repentinamente em uma obra de ficção para resolver uma determinada situação ou desemaranhar a trama. Nos teatros da Grécia Antiga, o "deus ex machina" ('ἀπὸ μηχανῆς θεός') era o personagem de um deus grego,literalmente trazido ao palco em um guindaste (μηχανῆς-mechanes), logo após a resolução de um problema aparentemente insolúvel pela vontade do deus. Em seu sentido moderno e figurativo, o "deus ex machina" traz o final da narrativa através da resolução inesperada (geralmente de maneira feliz) para o que aparentava ser um problema insuperável. Este mecanismo é usado frequentemente para terminar uma história sombria sobre uma nota mais positiva.
Justiça poética
Justiça poética é um mecanismo literário em que a virtude é recompensada e o vício é punido,de tal forma que a recompensa ou punição tem conexão lógica com o ato. Na literatura moderna,este mecanismo é muitas vezes usado para criar Twists irônicos do destino em que o vilão é pego em seu/sua própria armadilha.
Chekhov's gun
Chekhov's gun refere-se a uma situação em que um personagem ou elemento da trama é introduzida no início da narrativa. Muitas vezes, a utilidade do item não é imediatamente aparente até chegar o momento em que este alcança importância fundamental na história. Um mecanismo semelhante ao Chekhov's gun é a "planta", o qual prepara determinado elemento para ser repetido inúmeras vezes ao longo da história. Durante a resolução, o verdadeiro significado da planta é revelada. Ambos os mecanismos são usados para criar uma antecipação do que irá acontecer.
Red herring
Um red herring é uma pista falsa, criada com a intenção de direcionar os investigadores a uma solução incorreta. Este mecanismo geralmente aparece em romances policiais e ficções de mistério. O red herring é usado como um tipo de desorientador, um mecanismo destinado a distrair o protagonista e por extensão, o leitor, afastando-o da resposta correta ou das pistas verdadeiras. Um red herring também pode ser usado como um tipo de falso antecipador.
In medias res
In medias res (latim para "no meio das coisas") é uma técnica literária onde a narrativa começa no meio da história, em vez de ser no início (ab ovo ou ab initio).Os personagens, cenários e conflitos são frequentemente introduzidos através de uma série de flashbacks ou através de personagens que discorrem entre si sobre eventos passados. Esta técnica cria um Twist quando a causa não explicada anteriormente do incidente é revelada (culminando no clímax).
Narrativa não-linear
Narrativa não-linear é um mecanismo de narração que revela a trama e o personagem em uma ordem não-cronológica. Esta técnica requer a atenção do leitor em tentar organizar a linha do tempo da trama, a fim de compreender a história. Um final surpresa pode ocorrer como resultado de todas as informações reunidas, sendo direcionada até o clímax que coloca os personagens ou os eventos em uma perspectiva diferente.
Cronologia reversa
A cronologia reversa tem como função revelar o enredo em ordem inversa, ou seja, a partir do evento final para chegar no inicial. Ao contrário de histórias cronológicas,aonde as causas vão progredindo antes de chegar a um efeito final, as não cronológicas revelam o efeito final antes de explicar e desenvolver as causas que levaram a ela, portanto. A causa inicial seria nada mais do que o final surpresa da trama.
Fonte(s): cinemacomrapadura - wikipedia
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