Morto com um tiro no peito em 1954, quando exercia o segundo período como presidente, ele vinha sofrendo ameaças de militares e da imprensa
1. VIRADA DE JOGO
Em 1954, Vargas, que até então era queridinho dos industriais e da classe média, deu uma guinada à esquerda: cedeu espaço a sindicatos e restringiu acordos com os EUA. Em uma carta entregue a seu ministro do Trabalho, João Goulart, o presidente informou que vinha sofrendo pressões de grupos internacionais e nacionais contrários à sua postura política.
Ministro do Trabalho do governo de Vargas - João Goulart |
2. ALIADO COMPRADO
Na imprensa, o antigetulismo ganhou força com o jornalista Carlos Lacerda, líder da União Democrática Nacional (UDN). A rixa entre os dois chegou ao ápice após Lacerda sofrer um atentado atribuído ao chefe da guarda pessoal do presidente, Gregório Fortunato. “Essa bala não era dirigida a Lacerda, mas a mim”, teria dito Vargas, desconfiado de ter caído numa cilada.
Carlos Lacerda - Líder da União Democrática Nacional (UDN) |
3. AMEAÇA VELADA
No atentado, Carlos Lacerda levou um tiro no pé, mas seu acompanhante, Rubens Vaz, morreu. Vaz era major da Aeronáutica, o que levou as Forças Armadas a pedirem a renúncia do presidente. Isolado no Palácio do Catete, sede do governo, no Rio, Vargas se consultou com o ministro da Guerra, Zenóbio da Costa, e ouviu dele que sua resistência “custaria sangue, muito sangue”
Atentado sofrido por Carlos Lacerda |
4. TIRO PELA CULATRA
Na manhã de 24 de agosto, ouviu-se um disparo. Os familiares do presidente o encontraram agonizante em seu quarto, com meio corpo para fora da cama. Uma bala acertou o coração de Vargas pelo lado esquerdo, de baixo para cima, mas o revólver estava perto do braço direito – posição improvável para um suposto suicídio.
5. AUTORIA INDEFINIDA
Ao lado do cadáver, havia uma carta datilografada, repassada à imprensa como uma despedida oficial (é o famoso texto “saio da vida para entrar na história”). Porém, Vargas não sabia datilografar. José Soares Maciel, redator dos discursos do presidente, explicou que ele lhe havia entregue um manuscrito e que a mensagem não era uma despedida, mas um manifesto de um chefe de governo que provavelmente morreria lutando com os militares.
6. FALOU DEMAIS
No dia seguinte, o periódico O Radical estampou uma foto de Vargas morto com a manchete: “Este homem foi assassinado”. Dois meses depois, o jornal – que era da família de Rodolfo de Carvalho, admirador pessoal do presidente, e era financiado por grupos pró-Getúlio – fechou as portas.
7. DENÚNCIA ATRASADA
Em entrevista em 2012, a ex-vedete (atriz do antigo teatro de revista) Virgínia Lane deu sua versão. Amante de Vargas por 15 anos, ela disse que estava com o presidente na cama quando ele foi alvejado por capangas de Carlos Lacerda. Ela explicou que precisou fugir com Gregório Fortunato. Na época, Virgínia também anunciou a conclusão de um livro sobre o assunto, mas a obra nunca foi publicada.
A ex-vedete Virgínia Lane |
8. QUEIMA DE ARQUIVO
Gregório Fortunato, preso durante as investigações do atentado a Carlos Lacerda, também foi silenciado repentinamente. Em 1962, prestes a receber liberdade condicional por bom comportamento, ele foi esfaqueado até a morte por outro detento. O ex-segurança pessoal de Getúlio Vargas tinha dito que estava escrevendo um diário – que, no entanto, jamais foi encontrado.
Por outro lado…
Interpretação dos fatos é essencial nesse caso
Interpretação dos fatos é essencial nesse caso
- Vargas sabia da gravidade da situação e que não seria possível escapar da vergonha de um inquérito público
- Ele sinalizava estar disposto a autopunições desde 1930, quando, pelo menos três vezes, escreveu no diário que, se seus planos para o país falhassem, pagaria com a própria vida
- Em nenhum momento o quarto foi interditado para exames periciais aprofundados. Na verdade, o cômodo foi tomado por parentes, membros do governo e repórteres
- O Radical faliu porque o Banco do Brasil descobriu que seus cofres estavam sendo esvaziados ilicitamente para financiar o jornal
- O depoimento de Virgínia Lane jamais foi levado a sério por historiadores e memorialistas da vida política e cultural brasileira
- Gregório Fortunato não poderia estar presente na cena do crime, pois àquela altura estava preso na base do Galeão, onde passou 24 dias incomunicável
- Os criminalistas trataram a morte de Vargas como suicídio. Mas isso não está explícito no atestado de óbito: “ferimento penetrante da região precordial por projétil de arma de fogo”
- Mas é consenso entre historiadores que foi suicídio. Ao se matar, Vargas supunha que triunfaria sobre os militares, apoiados por civis ligados à UDN. Além disso, ele acreditava que viraria um mártir
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Fonte(s): Mundo Estranho
Ilustrações: Google / Júnior Duvaizem
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